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quinta-feira, 26 de março de 2015

IN MEMORIAM DE HERBERTO HELDER [1930-2015] – PARTE III


“No texto de abertura de Ou o poema contínuo (2001) – redução da sua “poesia toda” a uma “súmula”, não a uma antologia – Herberto Helder designa a época como a de um tempo de redundância: “O livro de agora pretende então aceitar a escusa e, em tempos de redundância, estabelecer apenas as notas impreteríveis para que da pauta se erga a música”.

Insinua-se aqui uma atitude radical que o poeta seguiu rigorosamente, ao fazer com que a sua obra existisse apenas por si mesma, impermeável a interferências mundanas, erguendo-se fora – e contra – o ruído do mundo. Isto significou uma enorme severidade: de Herberto Helder, não conhecemos senão uma auto-entrevista, umas raras fotografias e muito pouco da pessoa do autor e da sua vida civil, muito embora muitos poemas, e sobretudo a prosa de Passos em Volta e Photomaton & Vox, estejam cheios de referências crípticas de ordem autobiográfica.

Mas de certo modo Herberto Helder tudo fez para erradicar a pessoa do autor, ou melhor, para evitar que ele surgisse como mediação entre a sua obra e os leitores. Retirou-se para deixar a obra fazer o seu percurso e resplandecer em total autonomia. Atravessou incólume um tempo em que se impuseram as determinações da “vida literária” e em que as regras do campo literário ditaram aos autores a necessidade de se mostrarem e aparecerem para além dos livros, de entrarem no jogo que faz da literatura um pretexto para outra coisa. Isto significou a afirmação de uma autonomia incondicional da obra, segundo um preceito que o modernismo tinha reivindicado e seguido como um dos seus princípios estético-poéticos fundamentais.

Ao retirar-se e subtrair-se a todos os procedimentos que interferem nessa autonomia, Herberto Helder ganhou a imagem do poeta que recusa apresentar-se e representar-se nos palcos público e mediáticos. E assim se foi forjando algo a que poderíamos chamar o “mito Herberto Helder”, o mito do “poeta obscuro” que, com o seu gesto de retirada, desafia algumas regras da legitimação e consagração. De certo modo, ele foi um elemento escandaloso (não o único, acrescente-se) da grande família literária, aquele que não contribuía para os momentos festivos nem respondia aos apelos do culto, renunciando sistematicamente a todos os prémios, segundo aquele princípio flaubertiano de que “as honras desonram”. Por essa distância, ele acabou por ganhar uma aura - aquela “coisa” que desde Baudelaire os poetas tinham perdido e não se tinham dignado a recuperar - que não encontramos em nenhum outro poeta seu contemporâneo.

Mas o mito Herberto Helder jamais se construiria por exclusiva força destas circunstâncias. Fundamental, neste processo, é a própria poesia, que tem uma tonalidade órfica e, sem deixar de ser profundamente do nosso tempo, parece recuperar uma voz antiga, fazendo entrar nela uma dimensão que não só não pertence ao nosso tempo, não é de aqui e de agora, mas nem sequer pertence ao tempo da História. Vem de um tempo mítico, como os poemas das civilizações antigas ou governadas pela ordem do ritual e do tempo cíclico que ele traduziu. Muitas vezes, ela reenvia para o imemorial que fala através da voz do mito e está fora da nossa cronologia.

De certo modo, a poesia de Herberto Helder, nas suas anacronias, no encontro que nela se dá entre o mais contemporâneo e o mais antigo (uma antiguidade sem datas) obriga a colocar esta questão: será que ainda é possível a poesia num mundo completamente secularizado? A sua poesia restitui algo que nós, ainda que não o saibamos formular com exactidão, sabemos que foi perdido ou só já tem uma existência secreta e remota. E disso se alimentaram também as projecções e imagens públicas a que se prestou a figura de Herberto Helder enquanto poeta”.
 
FOTO de Alfredo Cunha

[António Guerreiro, in jornal Público, 25 de Março 2015, p. 4]

IN MEMORIAM DE HERBERTO HELDER [1930-2015] – PARTE II


“Nascido em 1930 no Funchal, Herberto Helder publicou os seus primeiros poemas em antologias madeirenses – Arquipélago (1952) e Poemas Bestiais (1954) –, e ainda na revista Búzio, editada por António Aragão. A sua obra de estreia, O Amor em Visita, um pequeno folheto editado pela Contraponto, saiu em 1958, quando frequentava, em Lisboa, o grupo surrealista que se reunia no Café Gelo, convivendo com Mário Cesariny, António José Forte ou Luiz Pacheco.

Por esta altura, abandonada a frequência universitária em Coimbra (primeiro de Direito e depois de Filologia Românica), o poeta tivera já vários empregos precários – passou pela Caixa Geral de Depósitos, angariou publicidade, trabalhou no Serviço Meteorológico e foi delegado de propaganda médica.

Em 1961, publicou o livro que desde logo o consagraria como uma das vozes fundamentais da poesia portuguesa: A Colher na Boca, editado pela Ática, a chancela que então publicava as obras de Fernando Pessoa. Ruy Belo, que também publicou na Ática, e no mesmo ano, o seu primeiro livro, Aquele Grande Rio Eufrates, contou a Joaquim Manuel Magalhães, segundo este narra em Os Dois Crepúsculos (1981), que “ao ver em provas na editora o livro de Herberto Helder, teria sentido ser esse o livro e não o seu”.

Entre a publicação, em 1958, do longo poema O Amor em Visita, cujos versos iniciais todos os jovens leitores de poesia portuguesa contemporânea sabiam de cor nos anos 60 e 70 – “Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra/ e seu arbusto de sangue. Com ela/ encantarei a noite (…)” – e o lançamento de A Colher na Boca, o poeta viajou pela Europa.

Tornou-se mítico o ecléctico e pitoresco inventário de ofícios que foi desempenhando para sobreviver enquanto deambulava pela França, Holanda e Bélgica. Foi operário metalúrgico, empregado numa cervejaria, cortador de legumes numa casa de sopas, guia de marinheiros em Amsterdão e empacotador de aparas de papel, curiosa ocupação para alguém que irá demonstrar uma permanente pulsão para se transformar, ele próprio, em papel, desaparecendo no interior da obra.

Regressado a Lisboa, trabalha nas Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian. Depois passa pela Emissora Nacional e pela RTP, trabalha em publicidade e torna-se, em 1969, director literário da Estampa, onde dá início à edição das obras de Almada Negreiros, que sempre admirará.

Em 1963, publicara um livro que basta para lhe assegurar também um altíssimo lugar entre os prosadores portugueses contemporâneos, Os Passos em Volta. Ainda nos anos 60, saem Poemacto (1961), Lugar (1962), Electronicolírica (1964), depois reintitulado A Máquina Lírica, Húmus (1967), o seu fascinante diálogo com Raul Brandão, e Retrato em Movimento (1967). Em 1968 publica O Bebedor Nocturno, o primeiro de vários volumes de traduções de poesia, e Apresentação do Rosto, título que mais tarde rejeitará, ainda que vários dos textos que o compõem ressurjam depois noutros livros.

No início dos anos 70, volta a viajar pela Europa e, em 1971, trabalha em Angola para a revista Notícia, de Luanda. Numa das suas reportagens, ao viajar com o seu colega Eduardo Guimarães, que ia ao volante, sofre um grave acidente de viação que quase lhe custa a vida.

Novamente em Lisboa, trabalha na editora Arcádia, e também na RDP, e colabora em várias publicações, sendo um dos organizadores da revista Nova (1976).

Em 1968 afirmara ir deixar de escrever – voltará a fazê-lo mais vezes –, e, de facto, descontado Vocação Animal (1971), não publica nenhum novo livro até Cobra (1977), se exceptuarmos também os dois volumes da Poesia Toda, publicados na Plátano em 1973, ano em que viaja para os Estados Unidos.

Mas Cobra assinala o início de um período muito criativo, que inclui O Corpo o Luxo a Obra (1978), Flash (1980), ou A Cabeça Entre as Mãos (1982). E ainda o volume de prosa e poesia Photomaton & Vox (1979), o primeiro lançado com a chancela da Assírio & Alvim, de Hermínio Monteiro e Manuel Rosa, que será durante décadas a sua editora.

Se descontarmos as compilações e traduções, e a sua muito pessoal antologia da poesia moderna portuguesa, Edoi Lelia Doura (1985), segue-se mais um período de silêncio até A Última Ciência (1988), e outros seis anos até Do Mundo, publicado em 1994, o mesmo ano em que lhe é atribuído o Prémio Pessoa, que Herberto Helder recusa, pedindo ao júri que não o anunciassem como vencedor e dessem o prémio a outro.

Embora continue a reescrever a obra, Herberto eclipsa-se depois durante quase uma década e meia. Mas o seu regresso com A Faca Não Corta o Fogo, possivelmente o melhor livro de poesia portuguesa do século XXI, é avassalador. Em 2013 publicou Servidões, e em 2014 saiu A Morte Sem Mestre, que assinalou a sua passagem para a Porto Editora e recebeu críticas desiguais, quebrando pela primeira vez o consenso quase absoluto que se gerara em torno da sua obra ..."

[Luís Miguel Queirós, in jornal Público, 25 Março 2015, pp 2-4]

[EM CONTINUAÇÃO]

IN MEMORIAM DE HERBERTO HELDER [1930-2015] – PARTE I


Herberto Helder de Oliveira [n. 23 Novembro 1930 - m. 23 Março de 2015]

(…) a morte faz do teu corpo um nó que bruxuleia e se apaga,/ e tu olhas para as coisas pequenas/ e para onde olhas é essa parte alumiada toda”.

“Como Pedro Mexia refere na sua reacção à morte do poeta, não tardará a tornar-se pacífico que Herberto Helder é o poeta central da segunda metade do século XX, como Pessoa o foi da primeira. Mas é uma centralidade que é ao mesmo tempo uma anomalia, porque a mágica e bárbara linguagem de Herberto, mesmo na sua versão atenuada dos últimos livros, parece vir do fundo dos tempos e ter nascido por engano nesta modernidade.

Não há na poesia portuguesa pós-Pessoa nenhum poeta que tenha exercido um tal poder de atracção e gerado tantos epígonos. E nenhum mais absolutamente impossível de imitar com proveito.

Quem leu desprevenidamente esses primeiros livros de Herberto, nos anos 60 e 70, há-de ter experimentado essa sensação de que a poesia só podia ser aquilo. Foi sempre esse o maior e mais estranho dom de Herberto Helder: convencer-nos (ainda que injustamente) de que escreve directamente em poesia, como se a poesia fosse a sua língua materna, e todos os outros poetas se limitassem a traduções mais ou menos conseguidas de um idioma perdido de que só ele detinha a chave (…)

Gastão Cruz lembra que conviveu muito com o poeta mais velho nos anos 60 e 70. “Primeiro, no restaurante Toni dos Bifes, ao lado do prédio onde vivia Carlos de Oliveira, e depois da morte de Carlos de Oliveira no café Monte Carlo.

Herberto era muito amigo do poeta de Sobre o Lado Esquerdo e “sentiu muito a sua morte”, diz Gastão Cruz: “A morte afectava-o, ele manifesta uma grande dificuldade em enfrentar o envelhecimento e a morte, e isso é muito visível em Servidões e em A Morte sem Mestre”.

Num e no outro livro, diz ainda, “vai por caminhos de linguagem diferentes dos anteriores, mais metafóricos, mas continua a ter uma linguagem fulgurante, só que com mais referências ao concreto”. A última poesia de Herberto “era de uma grande força verbal”, diz, e “mantinha uma ligação profunda com o que sempre foi a poesia dele, uma poesia de um poema único” (…)

A ensaísta Rosa Maria Martelo afirma dever a  Herberto Helder “horas sem conta de pura alegria de ler, de vislumbre, de paixão das coisas do mundo”. E ao saber que o poeta “morreu de morte súbita”, diz que “ter sido assim de repente” lhe parece “de uma grande justiça”. Nos últimos livros, recorda, “tinha antecipado muitas vezes a morte própria, vivendo-a em poemas exasperados, sem querer fugir à violência, ao pânico, mas em certos textos desejava isto mesmo: morrer depressa e sem dor”. E acrescenta: “Ele que nos últimos livros morreu tantas vezes, com evidente sofrimento”.

Herberto deixa-nos, diz, “uma das obras maiores alguma vez escritas em língua portuguesa, porque na sua poesia a língua extrema-se em subtileza, nitidez, precisão conceptual e plástica”. E sublinha que o poeta “escreveu com paixão absoluta” para notar que, “nestes tristes tempos, em que o significado das palavras flutua constantemente ao sabor de interesses e compromissos”, ele nos deixa “uma escrita que acontece literalmente no reverso disso, do lado da verdade, que é onde as palavras são um corpo vivo, sempre acabado de nascer”

FOTO de Alfredo Cunha

[Luís Miguel Queirós, in jornal Público, 25 Março 2015, pp 2-4]

[EM CONTINUAÇÃO]

domingo, 1 de maio de 2011

IN MEMORIAM ERNESTO SABATO 1911-2011


"Não devemos desperdiçar a graça dos pequenos momentos de liberdade de que podemos desfrutar: uma mesa compartilhada com pessoas que amamos, umas criaturas que ampararemos, uma caminhada entre as árvores, a gratidão de um abraço. Nós nos salvaremos pelos afectos. O mundo nada pode contra um homem que canta na miséria" [E.S.]

"Eu sou um anarquista! Um anarquista no sentido melhor da palavra. O povo crê que anarquista é aquele que põe bombas, mas anarquistas foram os grandes espíritos como, por exemplo, Leon Tolstoi" [entrevista ao diário 'O Tempo', Bogotá, 22 de junho de 1997 - via Wikipédia]

LOCAIS: "Mi padre no nos pertenecía solo a nosotros" / Ernesto Sabato, um resistente / Entrevista a Ernesto Sabato / Bibliografia / "La razón no sirve para la existencia" [Entrevista] / "Diálogos Borges Sabato" / Ernesto Sabato e a melancolia / As relações interartes em José Saramago e Ernesto Sábato

¡Hasta siempre, Ernesto!

sexta-feira, 25 de março de 2011

IN MEMORIAM DE TARCÍSIO TRINDADE 1931-2011


"Acorda-me de manhã
Ao nascer do sol
Canta uma cantiga
Em cada estação
" [Tarcísio Trindade]

O livreiro (e bibliófilo) Tarcisio Trindade (ou Tarcísio Vazão de Campos e Trindade - ver AQUI) partiu de entre nós, decerto para conversar com "os sinos e os anjos meninos", no passado dia 15 de Março. Apaixonado pelos livros que "descobria" e atravessavam séculos, autorizado e competente livreiro-alfarrabista, conversador cativante e animador de tertúlias bibliófilas na sua casa de livros antigos da Rua do Alecrim, Tarcísio Trindade sempre mereceu as maiores estimas quer do aprendiz a dar os primeiros passos na bibliofilia quer dos nossos mais ilustres (ou encartados) bibliófilos.

O respeito pelo livro antigo e moderno, a generosidade (que era verdadeira), a "modéstia" e o aprumo invulgar no trato e afeição que só uma inteligência superior possui, a "convivialidade e empatia com os seus clientes" são, por demais, conhecidas e aceites. Tarcísio Trindade foi um dos mais reputados, completos e respeitosos alfarrabistas da nossa praça. Mas também, como cidadão íntegro e fraterno, como poeta (que muito prometia), como curioso antiquário ou como político em defesa do município onde nasceu e que tanto amava, Tarcísio Trindade será sempre evocado. Era - como disse António Ventura - "um Príncipe do Mundo dos Livros". Um Amigo! E amigos assim nunca serão esquecidos.

À sua família, e em especial ao Bernardo, o nosso sentido pesar.

SOBRE TARCÍSIO TRINDADE: ler o Catálogo-Homenagem AQUI ONLINE [clicar na foto do Catálogo], com os seguintes títulos/autores:

"O Menino e as Quatro Estações" [Bernardo Trindade] / "Tarcísio Trindade Perfil Cultural e Cívico" [António Valdemar] / "Tarcísio Trindade ou a Cultura e a Modéstia de Mãos Dadas" [Artur Anselmo] / "O Meu Querido Amigo Tarcísio" [Luís Bigotte Chorão] / "Damião Peres e o Padre Casimiro ou a Evocação Amiga de um Príncipe do Mundo dos Livros" [António Ventura] / "O Meu Amigo Tarcísio Trindade" [António Pedro Vicente].

Foto retirada do jornal Região de Cister, com a devida vénia.

domingo, 26 de setembro de 2010

ANTÓNIO TELMO 1927-2010


"O ocultismo (hoje, prefere-se dizer ‘esoterismo’) não é evidentemente aquilo que nos livros se expõe de ocultismo" [A. Telmo, in Gramática Secreta da Língua Portuguesa]

Na manhã do passado dia 21 de Agosto de 2010 morreu [ou de novo recomeçou, porque "a morte não mata" – cf. Roso de Luna] António Telmo [n. 2 de Maio de 1927], cidadão humilíssimo, professor e investigador iluminante, um subversivo deste "reino da quantidade" [Guénon] a cair de tédio e um "cavaleiro do amor" [Sampaio Bruno] indiscutível do destino e espiritualidade de Portugal. Até sempre!

BIBLIOGRAFIA: Arte Poética, Lisboa, Guimarães, 1963 / História Secreta de Portugal, Lisboa, Vega, 1977 / Gramática secreta da língua portuguesa, Lisboa, Guimarães, 1981 / Desembarque dos Maniqueus na Ilha de Camões, Lisboa, Guimarães, 1982 / Filosofia e Kabbalah, Lisboa, Guimarães, 1989 / O Bateleur, Lisboa, Átrio, 1992 / Horóscopo de Portugal, Lisboa, Guimarães, 1997 / Contos, Lisboa, Aríon, 1999 / O Mistério de Portugal na História e n'Os Lusíadas, Lisboa, Ésquilo, 2004 / Viagem a Granada, Lisboa, Fundação Lusíada, 2005 / Contos Secretos, Chaves, Tartaruga, 2007 / A Hora de Anjos Haver [poemas], Porto, 2007 / [co-autor] A Verdade do Amor, seguido de Adoração: Cânticos de amor, de Leonardo Coimbra, Lisboa, Zéfiro, 2008 / Congeminações de um neopitagórico, Lisboa, Zéfiro, 2009 / A Aventura Maçónica, Lisboa, Zéfiro, 2010 / Luís de Camões, Estremoz, Al-Barzakh, 2010 / O Portugal de António Telmo, Lisboa, Guimarães, 2010.

LOCAIS: Entrevista com António Telmo [por Américo Rodrigues, para a revista Praça Velha] / À Conversa com António Telmo [Lusophia] / Adeus António Telmo! [Évora Oculta] / As Duas Colunas [António Telmo] / António Telmo ... homenagem na Biblioteca Nacional [Jornal de Notícias] / Filosofia e Kabbalah [Recensão crítica ao livro de A. Telmo, por António Cândido Franco]

sexta-feira, 18 de junho de 2010

ATÉ SEMPRE JOSÉ SARAMAGO!


"As palavras mais simples, mais comuns,
As de trazer por casa e dar de troco,
Em língua doutro mundo se convertem:
Basta que, de sol, os olhos do poeta,
Rasando, as iluminem
" [in Os Poemas Possíveis, Portugal Editora, 1966]

"... o autor está no livro todo, o autor é todo o livro, mesmo quando o livro não consiga ser todo o autor ..." [Saramago, in "O autor como narrador", Ler, Verão 97]

"... tudo quanto é nome de homem vai aqui, tudo quanto é vida também, sobretudo se atribulada, principalmente se miserável, já que não podemos falar-lhes das vidas, por tantas serem, ao menos deixemos os nomes escritos, é essa a nossa obrigação ...” [in Memorial do Convento, Caminho, 1982]

Morreu Saramago. Partiu o escritor para o sono eterno, porque "os homens são mortais mas não se pode ter a certeza de que todos / o sejam só aqueles que são vistos morrer diante dos nossos olhos" [Saramago, in Primeiro e Segundo Poemas dos Mortos]. Saramago, "esse escolhedor de factos", fez de facto história. Escreveu, desassossegou, construiu mundos ficcionais & escrita da terra, tomou posições políticas assumidas (qualidade de homem livre), deixou-nos coisas luminosas e boas. Faz parte da nossa história (Lusa ou Atlante), mesmo se como portugueses tivesse acabado a "nossa missão histórica", porque "estamos cansados de viver". A Saramago a nossa eterna gratidão!

Parte José Saramago e leva já saudades. Subiu alto! E tal como outros dos nossos escritores & poetas (e foram muitos e foram os melhores de várias gerações) a viagem feita foi de exílio pátrio, cerradas que lhe foram as portas, desta paróquia provinciana, mal frequentada e de má fama. Venceu a mediocridade da fala & comércio dos Sousas Laras (esse polícia das letras), dos vários "Engenheiros" e demais incumbentes da coisa pública, prenhes de rosariadas insónias, que atentos e veneradores sempre alimentamos. José Saramago afrontou-os continuamente, seguro e viril, em nossa glória e por orgulho patriótico. Mas não o calaram! E, por isso, nós jamais o abandonaremos.

Daqui, destes campos sacros e antiquíssimos do Mondego, o nosso derradeiro Vale! de despedida.

Até sempre Saramago!

sábado, 29 de maio de 2010

sexta-feira, 30 de abril de 2010

IN MEMORIAM JOSÉ VITORINO DE PINA MARTINS


"O verdadeiro bibliófilo é aquele que deseja possuir livros para com eles dominar a logosfera e pelo respeito que eles merecem tanto no plano da cultura como no da própria beleza, raridade da espécie e da elegância das próprias encadernações – factores, estes, de autêntica estesia"

[João Vicente de Pinto Marques, aliás pseud. de José Vitorino de Pina Martins, in "Para o Perfil de um Bibliófilo", Catálogo da Biblioteca R. de G. (admirável e terno texto de Pina Martins, de leitura necessária), Leilão da Azevedo & Burnay, Lisboa, Maio de 1984]

José Vitorino de Pina Martins foi um dos mais brilhantes estudiosos da História do Livro, um erudito da História do Humanismo e do Renascimento, um fulgurante investigador e bibliófilo notável. O seu saber admirável, autêntico, iluminado, marcou exuberantemente a cultura portuguesa. A sua obra literária e científica é sublime, mesmo desconcertante. O seu legado de bibliófilo de excepção, perturbante pela sua imensa erudição e de raríssimo entusiasmo sobre os alfarrábios, deixou-nos estudos extraordinários e um acervo bibliográfico sem igual. A sua opulenta biblioteca pessoal – decerto a mais valiosa dos nossos tempos -, adquirida há anos pelo grupo Espírito Santo, é disso testemunha. Até sempre doutor Pina Martins. Um abraço fraterno!

Sobre a biografia e a bibliografia (muito copiosa) de José Vitorino de Pina Martins consultar a entrada da Wikipédia (que está conforme o texto de Manuel Cadafaz de Matos, publicado nos "129 Trabalhos Científicos de um Grande Investigador José Vitorino de Pina Martins", Catálogo de Exposição Bibliográfica, B. N., Lisboa, Março de 1998, pp. 7-12). Como curiosidade, observa-se em textos (sob pseudónimo, como o que atrás referimos, mas outros mais sugerem ter saído da mesma pena, e curiosamente aparecidos em Catálogos) uma inquietação em torno da simbologia, uma curiosa escrita de teor, que se pode apelidar, "esóterica" ("secreto amador de obras raras" ?), o que não será alheio o profundo conhecimento que tinha das obras de Camões, Bernardim Ribeiro, D. Francisco Manuel de Melo, Dante e do grande Padre António Vieira. Por último, Pina Martins escreve, ainda, poesia, sob o nome de Duarte de Montalegre.

Outros Locais: Pina Martins (Diário de Coimbra)/ Obituário: Pina Martins faleceu hoje em Lisboa (Correio da Beira Serra) / J. V. de Pina Martins em Convívio com os Clássicos (Aires A. Nascimento) / Palavras de afecto, com memória (Aires A. Nascimento) / Giovanni Pico della Mirandola: (1463-1494)

sábado, 7 de novembro de 2009

IN MEMORIAM DE ANTÓNIO SÉRGIO (RADIALISTA)


"... agora que a "ROCK FINAL" está feita, contemos um pouco da sua história. Tudo. começou com o desejo expresso por um grupo de amigos e ouvintes da emissão do Rolls Rock, na FM Estéreo da Rádio Comercial, em obterem os textos que eram difundidos no programa. Mais ainda esses ouvintes e muitos de nós, sonhávamos com a hipótese de um periódico que fosse de informação musical alternativa, à pobreza infelizmente habitual das nossas publicações nacionais (...)

"ROCK FINAL" e portanto uma dedicatória marginal ao programa "Rolls Rock" e aos seus ouvintes ..."

Ficha Técnica: Textos de António Sérgio, Joaquim Manuel Lopes, Nuno Diniz, Ana Cristina, José António Santos

Colaboração: Ricardo Camacho e Zé Paulo

Artes finais de Ana Cristina e Joaquim Manuel Lopes.
Compilado em Dezembro e Janeiro (81/82)

Os textos incluídos forma transmitidos de Fevereiro a Dezembro de 81, no “Rolls Rock” – Rádio Comercial FM estéreo, de 2ª a 6ª das 20 às 21 e Sáb. das 22 às 24 h.

domingo, 2 de agosto de 2009


IN MEMORIAM DE M.S.LOURENÇO (1936-2009)

"O seu corpo, durante o banho, revelou para a posteridade o segredo da sua natureza genética: M. S. Lourenço era uma truta. As suas escamas caíram uma a uma e foram finalmente engolidas pelos esgotos do condado. Jaz no estrume de Dorchester com a esperança de se tornar num cacto" [in Pássaro Paradípsico]

"Quem dirá o numero dos meus dias?
Como será então o som da minha boca?
...
Quando encontrares o lugar do justo
Os campos cobrir-se-ão de trigo ...
" [in Desenvolvimento, Wytham Abbey]

"Ainda ontem, que era dia santo, os homens andaram toda a tarde para trás e para a frente por causa dum motivo bem fútil: extinguir a concupiscência do mundo
...
Ontem sim, que era dia santo. Ontem é que toda a gente sabia da coisa. Esteve lá o Senhor Presidente do município ..." [in Imitação da Cruz, O Desequilibrista]

"Que espécie de palavras é esperança
É da cor da cinza
Sabe a feno antigo depois da chuva
Opaca ao tacto como o muro alto e branco
Cheira a traineiras
À corda húmida depois da pesca
O ritmo oscila na clave
O acento entre sílabas que conspiram átonas ...
" [in Gama, Arte Combinatória]

"... A poética de M. S. Lourenço parte, quanto a mim, deste princípio: a poesia não tem que ser. A poesia é. Assim, não obedece a regras ou escolas, nem, tão pouco, a modas ou conveniências, sejam elas políticas, sociais ou religiosas. A poesia, pela sua essência e pela sua natureza, está permanentemente no estado amoroso de não alinhada, na exclusão do ordenamento, na perfeição de todas as imperfeições, na procura do indizível, na ausência de qualquer procedimento determinado. A poesia é e o poeta é um visionário ..." [Liberto Cruz, in M. S. Lourenço: O Desequilibrista Defenitivo]

LOCAIS: M. S. Lourenço / M.S. Lourenço [página pessoal] Uma Entrevista a M.S. Lourenço [Miguel Tamen] / Recordar M. S. Lourenço [Desidério Murcho] / Lourenço, M. S. [Colóquio Letras]

sexta-feira, 22 de maio de 2009


JOÃO BÉNARD DA COSTA (1935-2009)

"... e ter-te-ia dado uma água viva" [Jo. 4,10 – in Os Dias do Senhor, 1962]

Entraram muitas vidas na vida de João Bénard da Costa. A religião e a política, a arte e a vida, a literatura e a música, o cinema e a festa, e que são - tão só - uma "forma de nos defendermos contra a morte e uma forma de compensação diante do terror que a vida inspira" [J.B.C., in D.N., 2005]. Muito cá de casa, também Bénard da Costa foi o nosso portfólio de emoções. E tal como ele próprio disse, em salvaguarda de um futuro a fazer, só se restitui ao tempo "o que cada tempo a seu tempo trouxe". E o tempo de Bénard da Costa foi magnífico, para nossa glória.

João Bénard da Costa nasceu a 7 de Fevereiro de 1935. Estuda no liceu Camões, transfere-se para o liceu Pedro Nunes para seguir Direito, que troca por Ciências Histórico-Filosóficas. Contra aquilo que denomina "desordem estabelecida" [entrevista ao Público], porque "um cristão não poderia aceitar aquilo", João Bénard da Costa (como muitos outros) participa civicamente nas lutas de antanho contra o situacionismo e em prol de uma Igreja livre e de respeito pela pessoa humana. Na faculdade (no 2º ano) pertence à Juventude Universitária Católica (J.U.C.), tendo sido nomeado seu presidente (1957). Nas eleições presidenciais de 1958 [Humberto Delgado] aparece como primeiro subscritor de uma Carta ao director do jornal "Novidades" [jornal criado pela hierarquia da Igreja e que apoiava Américo Thomaz] apelando a que o jornal exerça uma "acção esclarecedora de princípios e de problemas, que pudesse orientar ... a consciência política dos católicos portugueses" [sobre o assunto consultar, "Católicos e Política", Pe José da Felicidade Alves, 1970, 2ª ed., p.13-16].

Ao mesmo tempo (1956) funda com Pedro Támen e Nuno Bragança o "Centro Cultural de Cinema", de orientação católica, que curiosamente marca um tempo de ruptura com a "arte" e estética de referência "neo-realista", via defesa do "cinema de autor".

Forma-se em 1959, mas não fica na Faculdade com o lugar de assistente (foi convidado por Delfim Santos) porque toma, anteriormente, posição – como católico e homem livre – contra a ditadura, na campanha de Humberto Delgado (1958), o que o impede de seguir a carreira pública. Concorre a uma bolsa da Fundação Gulbenkian, para continuar a sua tese de licenciatura sobre Emannuel Mounier. Lecciona em colégios (como o Liceu Francês Charles Lepierre e o Colégio Moderno) e só na década de 60 regressa ao antigo liceu Camões, onde nas suas instalações organiza o "primeiro festival de cinema".

Como membro da J.U.C., e na qualidade de seu presidente, dirige o jornal da organização "O Encontro". Nasce então essa curiosa tentativa de fundar uma revista como a francesa "Esprit" (revista humanista personalista, de clara inspiração via Emmanuel Mounier) e, sob providencial ajuda de António Alçada Baptista (na altura sócio principal da livraria-editora Moraes), juntamente com Pedro Támen, Nuno Bragança, Alberto Vaz Silva, nasce a importante e saudosa revista "O Tempo e o Modo" (nº1, Janeiro de 1963).

Participa, ainda, na cooperativa Pragma - fundada por um grupo de católicos [a 11 de Abril de 1964, curiosamente primeiro aniversário da encíclica Pacem in Terris – sob a Pragma, consultar "Entre as Brumas da Memória. Os Católicos Portugueses e a Ditadura", de Joana Lopes, Âmbar, 2007, p.61-79] – importante "plataforma de diálogo entre intelectuais de esquerda, crentes ou não" [ibidem] e que foi, evidentemente, perseguida pela PIDE, dando lugar a um conjunto vasto de protestos e (de memoráveis) abaixo-assinados direccionados quer ao poder político quer as entidades eclesiásticas, o que levou a uma maior consciencialização e radicalização de grande número de católicos contra a ditadura. Do mesmo modo, intervém nas tertúlias e debates da revista "Concilium" (1965 – vidé Joana Lopes, ibidem), lançada pela editora Moraes e que vem "aprofundar" e dinamizar o espírito do Vaticano II.

É na coluna de "Artes e Letras" da revista "O Tempo e o Modo" que Bénard da Costa escreve e faz crítica de cinema, sua antiga, sólida e grande paixão. Convidado pela Gulbenkian para ser o responsável pela secção de cinema da Fundação, aceita de bom grado. Participa, integrado na C.D.E., nas eleições de 1969. No princípio dos anos 1970, João Bénard da Costa dirigiu o Centro Nacional de Cultura.

O dia 25 de Abril, por que tanto esperava, apanhou-o a caminho do Conservatório Nacional (onde leccionava História do Cinema) e é aí que Villaverde Cabral [ver entrevista sua ao Público] o informa do golpe que decorria. Curiosamente, nessa noite, encontra-se num jantar em casa de Nuno Bragança (e Maria Belo) com um dos grupos que formaram o M.E.S., até sair em Dezembro desse ano, em ruptura com a organização [vidé I Congresso], acompanhando o "grupo do Florida" [Jorge Sampaio, Joaquim Mestre, João Cravinho, Galvão Teles, César Oliveira, Nuno Brederode dos Santos. O nome "grupo da Florida", refere-se ao grupo de comensais que se reuniam na "mesa reservada no snack-bar do hotel" do mesmo nome – cf. Os Anos Decisivos, César de Oliveira, 1993, p. 147]. Integra com os seus companheiros ex-MES, posteriormente, o Grupo de Intervenção Socialista [GIS]. Em 1980 foi subdirector da Cinemateca Nacional, depois director, entre 1991 e 2008. Publicou e colaborou em diversos livros [lembrar o nunca citado "Os Dias do Senhor", editado pela Moraes em 1962], folhetos, catálogos e periódicos, sendo notáveis os seus textos no jornal Independente e no Público.

Nota: hoje (21,30 m) a Cinemateca fará uma sessão especial de homenagem a Bénard da Costa, passando um dos filmes da sua vida "Johnny Guitar".

[texto também publicado no Almanaque Republicano]

sábado, 16 de maio de 2009


IN MEMORIAM DE EDGAR RODRIGUES (1921-2009)

O militante libertário, escritor anarquista e infatigável pesquisador do movimento operário, Edgar Rodrigues (aliás, António Francisco Correia) faleceu no dia 14 deste mês, no Rio de Janeiro. Nasceu em Angeiras (Matosinhos) a 12 de Março de 1921, "filho de um militante anarco-sindicalista português do Sindicato da Construção Civil filiado à CGT" [cf., aqui] e desde muito jovem (em casa dos pais) entra em contacto com o ideário anarquista e as doutrinas libertárias. Exila-se no Brasil (1951), fugindo à ditadura de Salazar, tendo adquirido, mais tarde, a nacionalidade brasileira.

Edgar Rodrigues trabalha inicialmente na construção civil, enquanto colabora dedicadamente com os exilados oposicionistas portugueses [apoia Humberto Delgado] e denúncia vigorosamente a ditadura do Estado Novo. Publica, por isso mesmo, os livros "Na Inquisição de Salazar" (Rio de Janeiro, 1957) e "A Fome em Portugal" (Rio de Janeiro, 1958), o que lhe vale a proibição de entrada em Portugal. Liga-se, entretanto, ao movimento anarco-sindicalista e libertário brasileiro, adoptando o pseudónimo de Edgar Rodrigues. Conhece os "velhos" militantes libertários brasileiros José Oiticica (colaborando no jornal "Acção Directa" e, depois da morte de Oiticica, dá continuidade ao Centro de Estudos, com o seu nome) e Edgard Leuenroth, com os quais trabalha activamente. Mais tarde será preso (1969) "durante a repressão desencadeada pela ditadura militar contra os anarquistas do Centro de Estudos José Oiticica do Rio de Janeiro".Trabalha na "reorganização do MLB", no Rio de Janeiro, participa no Congresso Anarquista de S. Paulo (1986), faz parte dos fundadores do "Círculo e Arquivo Alfa" (dota o Centro com um vasto espólio arquivístico, saindo do Centro em circunstância pouco esclarecedoras) e do Grupo Libertário Fábio Luz. Escreveu em diversos jornais e revistas de diversos países e é um dos fundadores da célebre Editora Mundo Livre (1960, Rio de Janeiro).

É notável o seu trabalho de recolha, investigação e divulgação das lutas operárias e da cultura libertária, principalmente em Portugal e no Brasil. Sendo um autodidacta ou um "filósofo-autodidacta", não recorrendo à vulgata académica, este adepto do "anarquismo operário" e crítico do que denomina "anarquismo dos intelectuais" deu uma inestimável contribuição ao estudo do movimento operário e social e das ideias anarquistas, em especial, pela inquebrantável pesquisa feita e publicada e que é uma fonte bibliográfica inesgotável.

No que diz respeito a Portugal, além dos inumeráveis escritos em jornais e revistas, regista-se a publicação em livro das seguintes obras:

"Na Inquisição de Salazar", Rio de Janeiro, 1957; "A Fome em Portugal", Rio de Janeiro, 1958; "O Retrato da Ditadura Portuguesa", Rio de Janeiro, 1962; "Portugal Hoy", Caracas, 1963; "Breve História das Lutas Sociais em Portugal", Lisboa, Assírio e Alvim, 1977; "O Despertar Operário em Portugal (1834-1911)", Lisboa, Sementeira, 1980; "Os Anarquistas e os Sindicatos (1911-1922)", Lisboa, Sementeira, 1981; "A Resistência Anarco-Sindicalista (1922-1939)", Lisboa, Sementeira, 1981; "A Oposição Libertária à Ditadura (1939-1974)", Lisboa, Sementeira, 1982; "O Porto Rebelde", Porto, Editor Fernando Vieira, 2001; "Lembranças Incompletas" [Autobiográfico], S. Paulo, Editora Opúsculo Libertário, 2007.

Locais: Biografia de Edgar Rodrigues / Edgar Rodrigues: uma curta Biografia / Nota de falecimento de Edgar Rodrigues [de onde retiramos, a foto acima] / Morre Edgar Rodrigues, o mais antigo exilado político português no Brasil / Edgar Rodrigues e o Movimento Anarquista no Brasil

[publicado, também, no Almanaque Republicano]

sábado, 17 de janeiro de 2009


In Memoriam Tereza Coelho (1959-2009)

Faleceu ontem (dia 17) Tereza Coelho, excelente tradutora, uma notável jornalista literária (no Expresso de muita memória, no diário Público – onde dirigiu o estimado suplemento "Leituras" -, no jornal Independente, na revista feminina Elle e na revista "Livros"), e uma admirável e inesquecível mulher.

A Figueira da Foz, cidade que adoptou como sua e onde tinha muitos amigos (como não lembrar os tempos do então Festival de Cinema, ou o seu casamento com Eduardo Prado Coelho), deve-lhe muito. Assim a cidade a saiba evocar, condignamente.

Ler a notícia no jornal Público, no jornal Figueirense e no blog Da Literatura.

Foto: in Mário Cabrita Gil (A Idade da Prata)

domingo, 7 de dezembro de 2008


António Alçada Baptista (1927-2008)

"Viajante, ensaísta, memorialista (Peregrinação Interior), editor (na Moraes), ficcionista (O Riso de Deus) – o António Alçada era sobretudo um conversador e um sedutor. Ele seduzia as pessoas com quem se cruzava ao longo da vida, e seduzia os seus leitores com aquele tom suave, como é a inocência da sua obra. Estabeleceu uma ponte entre os dois regimes, em 1974 (as suas Conversas com Marcelo Caetano foram uma última tentativa de ler o regime e O Tempo e o Modo uma forma de o mudar). Tinha uma inteligência muito intuitiva, o que o levava a pensar com leveza sobre coisas profundas. E chegava antes dos outros a conclusões que poucos hoje lhe atribuem. Isso fazia dele um homem generoso de quem era difícil não gostar. Muita gente lhe deve muita coisa".

F.J.V., in A Origem das Espécies

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008


Joaquim Figueiredo Magalhães (1916-2008)

Nasceu no Porto a 5 de Agosto de 1916 o fundador da incontornável editora Ulisseia (1948). E são (ainda) dias preciosos aqueles que os seus livros (e o tempo através deles) nos recordam.

Estamos todos gratos por ter tido Steinbeck, Céline, Beckett, Durrell, Vailland, Hemingway, Yourcenar, Greene, Henry Miller, Kerouac, Mircea Eliade, Evelyn Waugh, Ezra Pound, Apollinaire, Pasolini, Boris Vian, Morávia, Mailer, Dashiel Hammett e, evidentemente, os portugueses Mário Cesariny, Luiz Pacheco, Herberto Hélder, Fiama Hasse Pais Brandäo, Manuel de Lima, José Blanc de Portugal, Cardoso Pires, Alexandre O’Neill, Vergílio Correia, Raul de Carvalho, António Ramos Rosa, Sttau Monteiro, Melo e Castro, Carlos de Oliveira, José Marmelo e Silva, Manuel da Fonseca, Faure da Rosa, Eduardo Lourenço, na boa e saudosa colheita de livros da Ulisseia. E que nós, em pecado bibliófilo, possuímos e não libertamos. Bem como a revista Almanaque, de muita memória, como AQUI nos referimos.

Um bonito texto de Catarina Portas sobre essa admirável figura que foi Joaquim Figueiredo Magalhães, foi publicado pelo jornal Público (1/12/2008) e pode AQUI ser lido.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008


JOAQUIM DE CARVALHO 20 ANOS DEPOIS - FIGUEIRA DA FOZ

TERTÚLIAJoaquim de Carvalho e a ideia de Pátria

Com Carlos Pinto Coelho (moderador), Fernando Catroga e Miguel Real.

Presença de: Alexandre Franco de Sá, António Pedro Pita, Carlos André, Fernando Rosas, José Júlio Lopes, Pacheco Pereira, Paulo Archer, Reis Torgal.

30 DE OUTUBRO: 22 horas – Casino da Figueira da Foz

Ver no Almanaque Republicano ou no In Memoriam Joaquim de Carvalho: NOTAS POLÍTICAS SOBRE JOAQUIM DE CARVALHO - Parte I e Parte II

terça-feira, 14 de outubro de 2008


Blog - In Memoriam Joaquim de Carvalho (1892-1958)

50 anos depois da sua morte, o doutor Joaquim de Carvalho (1892-1958) – professor, erudito, filósofo, escritor, bibliófilo, homem de cultura de mérito excepcional – tem a homenagem, a lembrança e a presença de todos aqueles que, em testemunho de gratidão pelo cidadão, pelo mestre universitário e pela copiosa e insigne obra que nos legou, sempre se curvaram perante a sua saudosa memória.

A Escola Secundária Dr. Joaquim de Carvalho e a Associação Dr. Joaquim de Carvalho, da Figueira da Foz, nesta ocasião da passagem do cinquentenário da morte do doutor Joaquim de Carvalho – seu patrono – pretende assinalar a data com um conjunto de iniciativas de valor afectivo e cultural, que incluem várias tertúlias sobre a figura e o pensamento do homenageado, realizando-se a primeira já no próximo dia 30 do corrente mês, com a presença de conhecidas figuras da cultura portuguesa.

Entretanto, foi criado um oportuno blog de divulgação do seu patrono - ver, aqui – onde se afirma:

"Servirá este blog de útil caderno de apontamentos, resenha de factos e ideias que os interpretem, interpelem, questionem, de modo a que, se for caso disso, tenham a força de os transformar. Servirá também de anotação, de memória translúcida que resista ao impacto do tempo e ao absurdo da espuma dos dias.

Servirá, no berço intemporal do pensamento do seu patrono, de reflexão ao transtorno do presente, de interpretação dos inquietantes fantasmas que nos povoam, dos distúrbios do medo que nos ameaçam, mas também de posto de vigia e coragem à reafirmação constante de que existimos, tal como Joaquim de Carvalho, aqui e agora
".

[in 50 Anos Depois - In Memoriam de Joaquim de Carvalho]

sábado, 8 de março de 2008


In Memoriam de Maria Gabriela Llansol [1931-2008]

"Maria Gabriela Llansol nasce em 31, de um pai bibliófilo, de uma mãe extremosa e de um avô que intentona, e é deportado. Estudos de Direito. Advocacia rejeitada, para se vir encontrar num dos lugares filosóficos decisivos: viver com miúdos” [in Depois de os pregos na erva ..., 1973]

"... Escondeu-se para escrever; mas, antes, começou por ler no livro em que possuía a sua infinita felicidade
permanecia no princípio mas não tinha princípio; era o próprio princípio e, por consequência, não havia princípio; um no outro estava como o amado no seu amigo; e este amor que os une tem o mesmo valor que num e noutro, a mesma igualdade ...

Leio um texto e vou-o cobrindo com o meu próprio texto que esboço no alto da pagina mas que projecta a sua sombra escrita sobre toda a mancha do livro. Esta sobreposição textual tem por fonte os olhos, parece-me que um fino pano flutua entre os olhos e a mão e acaba cobrindo como uma rede, uma nuvem, o já escrito ..." [in O Livro das Comunidades, 1977]

"... Era uma vez um animal chamado escrita, que devíamos, obrigatoriamente, encontrar no caminho; dir-se-ia, em primeiro, a matriz de todos os animais; em segundo, a matriz das plantas e, em terceiro
a matriz de todos os seres existentes ..." [in Causa Amante, 1984]

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008


In Memoriam Luiz Pacheco

"Pode-se gostar ou não gostar, de Pacheco; pode-se estimar ou odiar Pacheco - não se pode é ignorá-lo. Este sátiro de três ao vintém, libertino de extracção caseira; redutor da vulgaridade e da grosseria, alcoólico, intriguista maior, retirante de todos os sítios, lítera do sec. XIX, ressurrecto em truculência, saltimbanco, incongruente, inconsequente - fez da literatura um meio de vida e desta um universo próprio (...)

Aí está ['Textos Malditos'] a degradação de um certo viver quotidiano; a lucidez militante de uma criatura que recusa os prestígios fáceis; as tonterias de uma prosa singularmente ladina e asseada, quero dizer: viva e sem enxúndia; o traço de união entre a miséria e a gloria (...)

Luiz Pacheco é a antítese do caligrafismo, seja: bate-se contra a frase padreca de uma literatura se santões e de arcanjos de asa branca. A estória sem historinha, a dilaceração sem uma lágrima (...)"

[Baptista-Bastos, Diário Popular, 22/12/77]

Foto in jornal Público, com a devida vénia